O encontro da semana passada entre os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, parece ter devolvido um norte um pouco mais previsível para o comportamento das exportações americanas de soja ao país asiático, embora tudo possa mudar do dia para noite na relação entre as duas potências. O acordo estabelecido não ameaça a posição de liderança do Brasil no fornecimento do grão aos chineses, e se for cumprido tende a preservar nesse mercado suas sazonalidades globais tradicionais.
Como destaca relatório da Consultoria Agro do Itaú BBA sobre a reunião e algumas de suas consequências agrícolas, Xi garantiu a Trump que a China vai manter aberto o fornecimento de terras raras, minerais críticos e ímãs, e que comprará energia e grãos americanos e ampliará os esforços para combater o tráfico de fentanil. Em contrapartida, os EUA reduzirão a tarifa de 20% incidente sobre as importações de fentanil e que suspenderão por um ano as novas taxas portuárias impostas aos navios chineses.
Pequim também reduzirá taxas semelhantes que, em resposta, passaram a onerar navios americanos, o que certamente facilitará o fluxo de grãos, cujas margens de lucro costumam ser baixas. Nessa frente, as tratativas ainda estão em curso, mas a expectativa dos EUA é que suas exportações de soja em grão à China alcançarão 12 milhões de toneladas já em 2025 e 25 milhões de toneladas por ano em 2026, 2027 e 2028, afora um volume adicional que tende a ser negociado com outros países asiáticos da área de influência da China.
O Itaú BBA ressalva que não está claro se a China eliminará a tarifa de importação que hoje está onerando a soja americana, ou será vai reduzi-la de 20% para 10%. De qualquer foram, as cotações do grão deverão encontrar maior sustentação na bolsa de Chicago nos próximos meses, ao passo que os prêmios nos portos brasileiros poderão se comportar de acordo com seus padrões históricos ligados às relações entre oferta e demanda.
“Caso haja a retirada das tarifas, a soja dos EUA ainda seria competitiva para embarques em dezembro e janeiro para a China, com alguma vantagem em relação ao Brasil. Porém, a janela de compra do grão americano é curta. Os negócios firmados agora só se traduziriam em embarques a partir de dezembro, com as cargas chegando entre o fim de janeiro e meados de fevereiro. Depois disso, o Brasil volta a ter vantagem de custo sobre os EUA”, pontuou a Consultoria Agro do banco.
Segundo o Itaú BBA, a necessidade de compra das esmagadoras chinesas – que no momento estão com margens negativas -, para a janela entre dezembro e janeiro é de cerca de 10 milhões de toneladas, “possivelmente até um pouco menos que isso”. Volumes adicionais dependeriam de compras estatais, para a formação de estoques. O banco lembra que as 25 milhões de toneladas anuais de soja americana que poderão seguir para a China durante o próximo triênio estão em linha com as quantidades embarcadas entre as safras 2018/19 e 2024/25.
A Consultoria Agro do Itaú BBA não acredita que a retomada de um fluxo mais estável e previsível de soja em grão dos EUA para a China afetará o Brasil, cuja volumes exportável tende a superar a marca de 110 milhões de toneladas nesta temporada 2025/26, que está em fase de plantio. “Se confirmada [a boa safra prevista, de cerca de 178 milhões de toneladas], manterá o Brasil extremamente competitivo, o que seguirá atraindo a demanda internacional”.
Brasil e EUA são, nessa ordem, os maiores produtores e exportadores de soja do mundo, com larga vantagem. Já a China lidera com folga as importações.
Inscreva-se para receber
as notícias gratuitamente
Ao inserir seu e-mail, você concorda em receber a newsletter do NPAgro. Você pode cancelar sua inscrição a qualquer momento