Por Lena Miessva, especial para o NPagro
Ampliar investimentos em tecnologia, inovação e sustentabilidade é a meta de Eduardo Oliveira e Sousa, presidente do conselho de administração da empresa portuguesa Cia. das Lezírias, localizada em Vila Franca de Xira, a 30 quilômetros de Lisboa, e que já ocupou grande parte do território português nos seus quase 190 anos, que completará em 2026.
A Companhia das Lezírias toca a maior exploração agropecuária e florestal de Portugal, com uma área total aproximada de 20 mil hectares, às margens dos rios Tejo e Sorraia. Cerca de 7,7 mil hectares são destinados à cultura de arroz, por meio de arrendatários (5,8 mil) e diretamente (2,2 mil hectares).
Há, ainda, 460 hectares em uma propriedade próxima, denominada Herdade de Catapereiro, com vinhedo, olival e cultura de milho e tomate. Por fim, há a área de corredores ecológicos e matas, integrada por 11,5 mil hectares, dos quais pouco mais de 3 mil são prados permanentes biodiversos e pântanos (conhecidos em Portugal como pauis).
O nome da empresa remete formação geográfica lezíria, definida como uma terra plana e alagadiça junto às margens de um rio. A empresa é uma sociedade anônima de capitais exclusivamente públicos, mas regida pela economia privada desde 1989. Ou seja, não é considerada uma empresa estatal, e integra o setor empresarial do Estado.
Engenheiro agrônomo, Eduardo Oliveira e Sousa, 71 anos, assumiu em 2024 a presidência do conselho de administração da companhia. Era deputado da Assembleia da República (congresso português) e, anteriormente, foi presidente por seis anos da CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal) e representava o setor agrícola no Conselho Permanente de Concertação Social, um órgão consultivo do governo português. O atual mandato do conselho de administração começou em 2024 e vai até 2026.
O volume anual de negócios da Cia.das Lezírias está próximo dos 10 milhões de euros, e o desafio da gestão atual é manter ou ampliar esse valor. A equipe tem 87 funcionários, com uma média etária de 46 anos.
O sólido conhecimento do setor agrícola e a experiência com a esfera pública são valiosos em época eleitoral em Portugal, marcada para 18 de maio após a dissolução da Assembleia da República, este ano. Afinal, o conselho de administração ainda depende da aprovação dos planos propostos para os três anos de mandato pelos ministérios da Agricultura e das Finanças, responsáveis pela empresa no governo.
Além de manter o modelo de arrendamento na produção de arroz, a estratégia é focalizar a produção de azeites e vinhos especiais, com marcas consumidas no mercado europeu. A gestão também aposta no enoturismo internacional, por estar próxima da capital do país. Em Portugal, o enoturismo representa cerca de um quinto das receitas do setor vinícola.
A Cia.das Lezírias tem, ainda, o conhecido observatório de aves EVOA – Espaço de Visitação e Observação de Aves, situado na Reserva Natural do Estuário do Tejo, uma das zona úmidas mais importantes de Portugal. O espaço permite a conservação da avifauna da região em 70 hectares. Com lagoas de água doce usadas pelas aves como áreas de refúgio e nidificação, o espaço tem três observatórios, abrigos fotográficos e diversos pontos de observação camuflados ao longo de cinco quilômetros de percursos pedestres.
Laços agrícolas
Souza conhece pessoalmente a dimensão e a agricultura brasileira, e acredita que esse conhecimento pode conectar Brasil e Portugal. Do lado brasileiro, ele destaca o papel fundamental da Embrapa. Do lado português, cita o Inavo (Instituto Nacional de Investigação Agrária).
“Portugal não pode nunca ambicionar a ter qualquer espécie de concorrência com o Brasil em termos de dimensão. Mas é possível fortalecer a troca de conhecimentos em tecnologias e a relação comercial”, afirma ele.
Portugal importa cerca de 50% da carne que consome, e a carne vinda do Mercosul representa um pouco mais de 2%. Além dos produtos portugueses tradicionais como vinhos, azeites e frutos vermelhos, Portugal é líder mundial em cortiça.
A empresa ainda lida com a pecuária, com 2,5 mil cabeças de bovinos. Desse total, há 1,3 mil vacas com foco na venda de bezerros desmamados, em que a preocupação é o controle sanitário – não há barreiras sanitárias entre os países na Europa.
Além disso, a Cia. das Lezírias tem cerca de 400 cavalos e é responsável pela Coudelaria Nacional da raça puro sangue de cavalo lusitano, uma das mais antigas, originária de Portugal e usada na equitação clássica e em escolas de adestramento, inclusive em muitos outros países.
A Coudelaria Nacional certifica os cavalos da raça a nível internacional. No Brasil, levados por Dom João VI e por outros nobres na era colonial, a raça deu origem ao cavalo mangalarga a partir de cruzamentos com éguas crioulas da região do sul de Minas Gerais.
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