Frigoríficos tentam manobra ‘criativa’ para abrir mercado do Japão para carne do Brasil

Indústrias vão sugerir que japoneses adotem o protocolo sanitário americano como padrão e liberem a venda de unidades já habilitadas pelos EUA
Alexandre Inacio
Carlos Fávaro, ministro da Agricultura

O presidente Luis Inácio Lula da Silva desembarcou nesta segunda-feira em Tóquio para uma visita oficial de três dias ao Japão. Acompanhando a comitiva presidencial, um grupo de 500 empresários participará de um fórum empresarial na capital japonesa. 

Entre eles, representantes dos maiores frigoríficos do Brasil levam debaixo do braço um pedido: que o Japão passe a importar carne bovina in natura do Brasil. 

Habitualmente, é criado um protocolo sanitário de equivalência dos serviços de inspeção, aprovado pelos países envolvidos. Esse processo costuma levar de oito meses a um ano para ser implementado, mas as indústrias brasileiras vão tentar acelerar esse movimento, segundo fontes ouvidas pelo NPagro.

Atualmente, os japoneses compram apenas carne industrializada e vetam o produto in natura brasileiro, sob o argumento de o país ainda não ser reconhecido internacionalmente como livre de febre aftosa sem vacinação. A expectativa é que esse reconhecimento seja alcançado em maio, na próxima reunião da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA).

Representada por Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Carnes (Abiec), parte importante dos frigoríficos brasileiros quer estabelecer com o Japão um protocolo sanitário que siga os parâmetros já definidos entre Brasil e Estados Unidos.

Na prática, a proposta da Abiec é que o Japão adote as bases sanitárias americanas para passar a importar carne bovina do Brasil. Inclusive, que libere para exportação as unidades brasileiras já habilitadas a exportar para o mercado americano.

A estratégia tem, em certa medida, algum sentido. É consenso no mercado internacional de que exportar para os Estados Unidos é um sinal de alto controle sanitário, devido aos rigorosos padrões exigidos pelo governo americano.

Além disso, quase 80% da carne importada pelo Japão vem dos Estados Unidos. Na tese defendida pela Abiec, se os japoneses confiam nos padrões americanos para comprar tanto daquele país, poderiam também confiar no produto brasileiro – afinal, os Estados Unidos são grandes clientes do Brasil.

“O Brasil tem um dos sistemas de controle sanitário mais avançados do mundo, cumprindo rigorosamente as exigências de mercados altamente criteriosos, como Estados Unidos, União Europeia e China”, disse a Abiec, em nota.

Resistência na indústria

A ideia da Abiec, contudo, enfrenta resistência de parte dos próprios frigoríficos brasileiros, especialmente médios e pequenos. Isso porque a proposta prevê que as unidades liberadas para exportar para os Estados Unidos sejam habilitadas a vender para o Japão, o que deixaria de fora, num primeiro momento, aqueles que ainda não vendem aos americanos.

Dentro do próprio governo a proposta do setor privado também não é bem aceita. Além de gerar um problema concorrencial, o plano deixaria o Brasil exposto do ponto de vista sanitário. Caso os Estados Unidos fechassem em algum momento o mercado para a carne brasileira, os japoneses seguiriam o mesmo caminho imediatamente.

A estratégia mais bem aceita, tanto no Ministério da Agricultura quanto no Itamaraty, é que o protocolo sanitário criado entre Brasil e Japão tenha seus próprios parâmetros e não esteja vinculado de nenhuma forma às regras em vigor com outros países.

Para as indústrias, no entanto, esse plano demoraria mais tempo para ser implementado. Técnicos dos dois ministérios disseram ao NPagro que a criação de um protocolo sanitário segue 12 etapas fundamentais. No caso das tratativas com o Japão, o Brasil estaria apenas no quarto degrau.

Fontes ouvidas pelo NPagro disseram que o ministro Carlos Fávaro tende a apresentar no Japão a proposta defendida pelo setor privado, mesmo sendo mais favorável à ideia do corpo técnico do governo. Isso porque, no caso de a estratégia não ser bem-sucedida, o ônus não recairia sobre seus ombros.

Diante do impasse, pessoas próximas ao ministro Fávaro consideram que dificilmente o Brasil voltará da viagem com o mercado japonês aberto para a carne bovina nacional.

E o grande interesse das indústrias brasileiras pelo mercado japonês não é por acaso. O país é o terceiro maior importador de carne bovina do mundo, atrás apenas de China e Estados Unidos. O Japão tem uma demanda anual de cerca de 720 mil toneladas, ou seja, 6,5% de toda carne importada no mundo.

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