Embora tenham permanecido relativamente estáveis ou subido pouco em boa parte do país em março, os preços do milho estão em um patamar ao menos 20% superior ao do fim de dezembro e acumulam alta expressiva nos últimos 12 meses, o que reduz as margens de lucro da indústria de aves e suínos e ajuda a pressionar a inflação de alimentos de uma maneira geral. E, para boa parte dos analistas que acompanham esse mercado, a tendência é que a curva de valorização volte a se tornar mais aguda nos próximos meses, mesmo com a safrinha recorde que deverá ser colhida no Brasil nesta temporada 2024/25.
Na sexta-feira, o indicador Esalq/BM&FBovespa para a saca de 60 quilos entregue em armazém (atacado) na região de Campinas, em São Paulo, atingiu R$ 87,87, ante R$ 87,49 um mês antes. Na comparação com o nível praticado no fim de dezembro, porém, o valor é cerca de 20% maior, e em relação ao fim de março de 2024 o ganho supera 42%. Segundo o Centro Avançado em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), a momentânea estagnação reflete o avanço da colheita da safra de verão e uma certa perda de fôlego da demanda.
“As negociações envolvendo milho vêm ocorrendo de forma pontual e regionalizada (…) A colheita da safra de verão avança bem na maior parte das praças, e a semeadura da segunda safra caminha para a fase final. Do lado da demanda, muitos consumidores se mostram abastecidos, e, com isso, se mantêm afastados do spot nacional e/ou compram lotes pontuais. Esse contexto tem resultado em pressão sobre as cotações em algumas regiões, como é o caso de Campinas (…) Ainda assim, os valores seguem em patamares elevados e acima dos praticados há um ano, em termos nominais”, informou o órgão na semana passada.
Em Mato Grosso, Estado que lidera a produção nacional, mas que exporta grandes volumes e onde a demanda das usinas de etanol é maior, as cotações atuais são mais que duas vezes maiores que as de um ano atrás. No Paraná, os preços atuais estão 13% mais elevados que os de dezembro e 45% maiores que em março de 2024.
Ocorre que, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra de verão (24,9 milhões de toneladas) deverá representar apenas 26% do volume previsto para a colheita da safra de inverno (95,5 milhões de toneladas) nesta temporada 2024/25, e como os estoques desabaram no ciclo 2023/24, para cerca de 2 milhões de toneladas, a expectativa é que, antes da colheita da safrinha, o país experimente um período de entressafra de oferta apertada, lembrando que a produção de etanol de milho é crescente e deverá ajudar a enxugá-la.
Neste momento, os preços dos contratos futuros na bolsa de Chicago apresentam alta marginal ante igual intervalo de 2024, incapaz de puxar de forma expressiva as cotações no Brasil, mas a expectativa é que a valorização ganhe tração antes da chegada da próxima safra dos Estados Unidos (2025/26) aos armazéns e aos portos, no início do segundo semestre – quando a atual safrinha brasileira, que será recorde, também começará a ganhar força no mercado. Antes dessa combinação, vale a pena reforçar, as perspectivas são de alta nos fronts interno e externo.
Diante dessas projeções de movimentações, que ainda dependerão dos reflexos do clima sobre as lavouras americanas e brasileiras, o economista Fabio Silveira, sócio-fundador da MacroSector, calcula que o preço médio do milho subirá quase 30% no Brasil este ano na comparação com a média de 2024, para R$ 81,60 a saca de 60 quilos. Trata-se de um valor menor que o praticado hoje em dia, mas que leva em conta um aumento maior durante a entressafra. No ano passado, mostra a consultoria, o preço médio caiu 3% ante 2023, quando já havia sido registrada uma retração de 25% em relação a 2022.
“Noves fora”, Silveira sustenta que a rentabilidade dos produtores brasileiros de milho deverá experimentar “significativa melhora” em 2025. Mas, na matemática do agro, essa realidade mais positiva para os produtores, após um longo período de aperto, transferirá o suor para os próximos elos da cadeia. Na sexta-feira, o indicador Cepea/Esalq para o quilo do frango resfriado negociado em São Paulo ficou em R$ 8,29, com alta de 13,4% em um ano, ao passo que o indicador para o quilo do suíno vivo estava em R$ 8,19, 22,1’% mais em igual comparação.
A expectativa é de novos aumentos nos próximos meses nos dois casos, e essa curva dificilmente poupará os frigoríficos. Isso mesmo que a transferência de consumo da carne bovina para as carnes de frango e suína seja forte, como sugerem as perspectivas de encarecimento do boi no campo e dos cortes bovinos no atacado e no varejo. Nesse contexto, uma oferta abundante de milho no segundo semestre, quando o boi poderá testar novas máximas – a depender da velocidade da inversão do ciclo da pecuária no país -, poderá ser o fiel da balança para a garantia de margens positivas nas indústrias de aves e suínos.
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